quarta-feira, 4 de setembro de 2013

(OPINIÃO) Da fé ao pó.

Por Agatha Brunelly
brunellyagatha@gmail.com


Mês passado vivenciamos a sanção de uma Lei que o corpo da brasileira violentada sexualmente ansiava há anos e a mente já não acreditava na possibilidade de realização. No dia 1º de agosto a presidente Dilma Rousseff (PT) aprovou uma nova lei para o Brasil. A partir daquele dia os hospitais do país estariam obrigados a prestarem atendimento às estupradas. Na verdade, no papel e nas formalidades o nome certo das beneficiadas por esta lei são vítimas de violência sexual, mas na prática, não há cautela, carinho, nem eufemismos. O estupro é forte, arrebenta com o corpo, a mente e a vida da mulher que não aguenta mais esperar para que ele seja exterminado das práticas humanas, ou neste caso, desumanas.

A “lei da profilaxia a gravidez”, como foi chamada, estabelece que os hospitais do Sistema único de Saúde (SUS) ofereçam a pílula do dia seguinte em casos de estupro. A droga é capaz de impedir que a vítima engravide, no entanto, é ainda capaz de causar alvoroço diante dos religiosos que irredutíveis apresentaram no Congresso, uma semana antes da lei ser aprovada, projetos e até vigília de protesto com o objetivo de anular a proposta de apoio humanitário oferecido pelo Governo.

Cartaz da Campanha: "Chega de rosário nos nossos ovários"
Segundo algumas comunidades religiosas, o termo “profilaxia” abre espaço para entendimentos, na própria mente do religioso, que Rousseff estaria legalizando o aborto no Brasil, o que infelizmente não é verdade, uma vez que por meio de dados, a legalização da prática faz com que diminua a quantidade de abortos realizados, além de oferecer eficácia na prevenção de mortes maternas ao evitar abortos clandestinos, um problema atual da saúde pública brasileira.

Tampouco pesquisas como a divulgada em março deste ano, na qual revela que o Uruguai teve o número de abortos diminuído de 33 mil para quatro mil ao ano após descriminalizar a prática até a 12º semana de gestação, são capazes de modificar a mente da bancada religiosa que convenceu o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, de substituir o termo “profilaxia da gravidez” por "medicação com eficiência precoce para prevenir a gravidez decorrente de estupro”. Termo que demanda mais tempo para ser lido, assim como para chegar a uma condição de liberdade feminina quanto à gestação, uma vez que no Brasil, o aborto é tipificado como crime contra a vida humana desde 1984 pelo Código Penal Brasileiro e somente não é aprovado por força da ideologia religiosa.

Desde 1940 o aborto em caso de violência sexual é permitido no Brasil. Desde 1º de agosto de 2013, a paciente vítima de violência sexual recebe no hospital o amparo psicológico, o encaminhamento para o órgão de medicina legal e o registro de boletim de ocorrência. Porém, em setembro de 2013 a mulher brasileira ainda não pode decidir se quer um filho ou não. Em setembro de 2013 ainda tem gente opinando em algo que veda a opinião alheia. Em setembro de 2013 alguns ainda apontam para a fé e cegamente remam conscientes de que isso consome com a esperança dos que estão remando desde 1984 e se veem em 2013 morrendo na praia, ou em um consultório clandestino, no lugar do feto imune perante lei, Deus e os homens.

Um comentário:

  1. "Não somos machistas, mas..."

    É cômico ver a coerência da 'bancada religiosa'.

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