sábado, 26 de outubro de 2013

(OPINIÃO) Um ou dois nós na garganta.

Por Agatha Brunelly
brunellyagatha@gmail.com

Cantada não é elogio e elogio não é cantada. Parece simples de dizer, mas o quanto é complicado para as pessoas entenderem o que essa sentença significa, não cabe em blogs, jornais, nem qualquer outro veículo de informação. Mas, pelo menos um desses meios tem tentado compilar uma série de opiniões que mostram o quanto a população ainda não sabe distinguir como a escolha das palavras usadas ao se dirigir a uma mulher pode interferir. Interferência essa não só nos minutos em que ela ouve alguém se referindo ao corpo dela, como também no resto da vida daquela pessoa, que ficará marcada por um costume o qual evidencia apenas um elemento: a presença da cultura do machismo na nossa sociedade.

O nome da mídia que resolveu abrir os ouvidos e em seguida colocar a boca no trombone para abordar o assédio sexual em locais públicos é o blog Think Olga, o qual colocou no ar uma pesquisa elaborada pela jornalista Karin Hueck em agosto deste ano. A busca fez parte da campanha “Chega de Fiu Fiu” e contou com 7762 participantes. Porém, o número mais alto ainda está por vir: 99,6% delas asseguraram que já foram assediadas. Podendo assinalar mais de uma opção, 98% das moças disseram ter sido abordada na rua; 80% em parques, shoppings, cinemas, e outros locais coletivos; 77% na balada; 64% no transporte público e 33% no trabalho.

83% falaram que não acham legal ouvir cantadas, enquanto 17% acreditam que a atitude é algo bacana. 81% já deixaram de ir a algum lugar, passar em frente a uma obra ou até sair a pé com medo do assédio. Somente 19% não modificaram sua rotina e pensamento quanto a isso. Mas, 90% já trocaram de roupa pensando no lugar que iriam, e, corajosas, 10% tiveram “colhões” de encarar fuziladas no que estava embaixo de suas minissaias, suas calças um pouco mais coladas, e seus shorts, que milagrosamente salvam muitas das temperaturas de verões brasileiros.Infelizmente, ao mesmo tempo em que 27% xingam os covardes que as importunam na rua, 73% das mulheres não respondem por medo.

Passível de escolher mais de uma opção, por mais bizarro que seja, 84% das pesquisadas já ouviram a cantada “linda” em algum espaço público. 83% escutaram “gostosa”. 78% já estiveram em situações que foram chamadas de “delícia”. Entre outras atrocidades fantasiadas de opções para se assinalar a realização de uma infelicidade, 62% das moças já tiveram o azar de serem desejadas com a frase “ô lá em casa”, e 36%, em cada resposta, tentam até hoje esquecer algo como “te pegava toda” ou “te chupava toda”.

85% já sofreram com alguém passando a mão nelas. 73% na bunda; 46% na cintura; 17% nos peitos; 14% no meio das pernas e 4% em outras partes do corpo. 68% foram xingadas porque disseram não às cantadas de alguém. Entre as ofensas 45% correspondem à “metida”; 25% à“mal-comida”; 23% são “feias” segundo o recalque dos agressores incapazes de conquistar uma mulher; 16% são “barangas”; 13% são “gordas” e 17% foram chamadas de outras coisas.

Engano é pensar que não é possível se entristecer mais depois de ver os resultados dessa pesquisa que foi publicada também pelo site da revista Época. Ao ver os comentários da matéria é possível encontrar atrocidades, que não só deixam qualquer mulher cabisbaixa como também com um nó na garganta ao ler as palavras de Tenohrio Bolsomurro, “1) Vistam-se com decência. 2) Fim à programação televisiva imoral. 3) Resistência à comercialização da sensualidade imposta pelo Sistema. O problema estará resolvido”. Ou então, mulheres machistas como Rosely que disparou dica de uma moda repleta de estereótipos: “Quem anda com trajes não tão curtos vai ouvir no máximo um: linda. Mas a maioria tem andado com decotes cada vez maiores e vestidos cada vez menores e sim, é pra provocar; então que aguentem as consequências. As que dizem que se vestem pra sí próprias, estão mentindo, porque se formos visitá-las de surpresa em casa, iremos encontrá-las de pijamão. Aí vão perguntar: o que é decente? Simples, vestido = um palmo bem aberto depois que acaba a curvinha final do bumbum, ou dois palmos fechados acima do joelho. Decote = deve ir no máximo até o início da alça do soutien”.

Mas, apesar de todas essas informações ainda existem pessoas que não entendem o tamanho de uma ofensa. Dessa forma, como fazer para as pessoas entenderem que roupa comprida não trava língua de falastrão? Que uma mulher ficar com quantos ela quiser não faz dela merecedora de assédios? Que bebida não justifica comportamentos agressivos e que a cultura do machismo só será abominada mediante a cultura do respeito? Pensemos a respeito...


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