Por Agatha Brunelly
brunellyagatha@gmail.com
Cantada não é elogio e elogio não é cantada. Parece
simples de dizer, mas o quanto é complicado para as pessoas entenderem o que
essa sentença significa, não cabe em blogs, jornais, nem qualquer outro veículo
de informação. Mas, pelo menos um desses meios tem tentado compilar uma série de
opiniões que mostram o quanto a população ainda não sabe distinguir como a
escolha das palavras usadas ao se dirigir a uma mulher pode interferir.
Interferência essa não só nos minutos em que ela ouve
alguém se referindo ao corpo dela, como também no resto da vida daquela pessoa,
que ficará marcada por um costume o qual evidencia apenas um elemento: a
presença da cultura do machismo na nossa sociedade.
O nome da mídia que resolveu abrir os ouvidos e em
seguida colocar a boca no trombone para abordar o assédio sexual em locais
públicos é o blog Think Olga, o qual colocou no ar uma pesquisa elaborada pela
jornalista Karin Hueck em agosto deste ano. A busca fez parte da campanha “Chega
de Fiu Fiu” e contou com 7762 participantes. Porém, o número mais alto ainda
está por vir: 99,6% delas asseguraram que já foram assediadas. Podendo
assinalar mais de uma opção, 98% das moças disseram ter sido abordada na rua;
80% em parques, shoppings, cinemas, e outros locais coletivos; 77% na balada;
64% no transporte público e 33% no trabalho.
83% falaram que não acham legal ouvir cantadas, enquanto
17% acreditam que a atitude é algo bacana. 81% já deixaram de ir a algum lugar,
passar em frente a uma obra ou até sair a pé com medo do assédio. Somente 19%
não modificaram sua rotina e pensamento quanto a isso. Mas, 90% já trocaram de
roupa pensando no lugar que iriam, e, corajosas, 10% tiveram “colhões” de encarar
fuziladas no que estava embaixo de suas minissaias, suas calças um pouco mais
coladas, e seus shorts, que milagrosamente salvam muitas das temperaturas de
verões brasileiros.Infelizmente, ao mesmo tempo em que 27% xingam os covardes
que as importunam na rua, 73% das mulheres não respondem por medo.
Passível de escolher mais de uma opção, por mais bizarro
que seja, 84% das pesquisadas já ouviram a cantada “linda” em algum espaço
público. 83% escutaram “gostosa”. 78% já estiveram em situações que foram
chamadas de “delícia”. Entre outras atrocidades fantasiadas de opções para se
assinalar a realização de uma infelicidade, 62% das moças já tiveram o azar de
serem desejadas com a frase “ô lá em casa”, e 36%, em cada resposta, tentam até
hoje esquecer algo como “te pegava toda” ou “te chupava toda”.
85% já sofreram com alguém passando a mão nelas. 73% na
bunda; 46% na cintura; 17% nos peitos; 14% no meio das pernas e 4% em outras
partes do corpo. 68% foram xingadas porque disseram não às cantadas de alguém.
Entre as ofensas 45% correspondem à “metida”; 25% à“mal-comida”; 23% são “feias”
segundo o recalque dos agressores incapazes de conquistar uma mulher; 16% são “barangas”;
13% são “gordas” e 17% foram chamadas de outras coisas.
Engano é pensar que não é possível se entristecer
mais depois de ver os resultados dessa pesquisa que foi publicada também pelo
site da revista Época. Ao ver os comentários da matéria é possível encontrar
atrocidades, que não só deixam qualquer mulher cabisbaixa como também com um nó
na garganta ao ler as palavras de Tenohrio Bolsomurro, “1)
Vistam-se com decência. 2) Fim à programação televisiva imoral. 3) Resistência
à comercialização da sensualidade imposta pelo Sistema. O problema estará
resolvido”. Ou então, mulheres machistas como Rosely que disparou dica de uma
moda repleta de estereótipos: “Quem anda com trajes não tão curtos vai ouvir no máximo um:
linda. Mas a maioria tem andado com decotes cada vez maiores e vestidos cada
vez menores e sim, é pra provocar; então que aguentem as consequências. As que
dizem que se vestem pra sí próprias, estão mentindo, porque se formos
visitá-las de surpresa em casa, iremos encontrá-las de pijamão. Aí vão
perguntar: o que é decente? Simples, vestido = um palmo bem aberto depois que
acaba a curvinha final do bumbum, ou dois palmos fechados acima do joelho.
Decote = deve ir no máximo até o início da alça do soutien”.
Mas, apesar
de todas essas informações ainda existem pessoas que não entendem o tamanho de
uma ofensa. Dessa forma, como fazer para as pessoas entenderem que roupa
comprida não trava língua de falastrão? Que uma mulher ficar com quantos ela
quiser não faz dela merecedora de assédios? Que bebida não justifica comportamentos
agressivos e que a cultura do machismo só será abominada mediante a cultura do
respeito? Pensemos a respeito...
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