Por Vanessa Fófano
vanessafoffano@gmail.com
João
do alto dos seus 52 anos pega o jornal pela manhã. Entre uma página
e outra se depara com a editoria de economia. Os gráficos, as setas,
índices disso e daquilo se misturam em informações que precisariam
de um tradutor para ser entendidas. Desiste logo nas primeiras linhas
e parte para o trabalho.
Para
no caminho e abastece o carro; gasolina cara e só aumentando.
Esbraveja e amaldiçoa meio mundo, mas continua seu caminho. No
trabalho, como segurança de uma galeria ouve comentários sobre a
alta do dólar e fica pensando que raios a alta do dólar tem a ver
com o Brasil. Povo desocupado, pensa, já tem tantos problemas por
aqui para ficar se preocupando com o dinheiro dos outros.
No
meio da tarde João é avisado de uma reunião com o chefe. Animado
ele pensa em tudo que poderá fazer com seu aumento. Sim, deve ser
disso que o chefe irá tratar afinal de contas foi esse o combinado,
os salários dos seguranças deveriam ser reajustados ainda naquele
mês. Viajar, comprar aquele vídeo game que o filho está pedindo há
meses e quem sabe até uma pequena reforma na casa.
Todo
trabalhador tem lá seus desejos, ambições e planos. Precisa
atender a emergências e o tempo (leia-se dinheiro) para sonhar é
pouco. Depois de tantos anos de trabalho e com uma bela de uma
lordose
na coluna João conta os anos para se aposentar, mas pensa também
que já é hora de fazer um plano de saúde. Saúde nunca pôde ser
prioridade e seu médico há anos é o farmacêutico da esquina de
casa.
Hora
da reunião. João se encaminha para o encontro com o chefe junto a
seus colegas de trabalho. A expectativa é grande, mas as notícias
nem tanto. “Não será possível o aumento nos próximos meses.
Tivemos muitos gastos recentemente. Então sejamos cautelosos, vamos
esperar que as coisas melhorem daqui pra frente”.
Pronto!
Lá se foram os planos de João. O melhor é se controlar para que a
gastrite não o ataque. Com a decepção estampada no rosto recolhe
sua frustração e volta ao trabalho. As horas se arrastam. Quando
finalmente o expediente se encerra João não espera um minuto a mais
e vai embora.
Uma
parada na padaria para comprar um pãozinho quente, e acaba lembrando
que não bateu o ponto de saída no trabalho. Maravilha!
Justificativa à vista! O que vou escrever? Pensa João... “Fiquei
puto com o meu chefe e esqueci a porcaria do ponto” Não, não
seria uma boa. Pede os pães à balconista e se assusta com a
etiqueta do preço. “Que preço é esse minha filha! Isso aqui é
pão!” e a balconista responde prontamente. “Não meu senhor,
isso aí é a alta do dólar!”.
Adorei a sensibilidade para o cotidiano fechando com uma pitada de bom humor, Vanessa! Parabéns! Adoro suas crônicas.
ResponderExcluirMuito obrigada Fernanda! =)
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