sábado, 21 de setembro de 2013

Meio Fio Veículos

Por Marcello Araújo
marcelloaraujo.gv@gmail.com 

O trânsito na cidade está cada vez mais complicado. São emplacados mensalmente em Governador Valadares, cerca de 700 veículos e estima-se que exista em circulação algo em torno de 110 mil veículos, segundo dados do Departamento de Trânsito de Minas Gerais da cidade (DENTRAN GV). Com o aumento de automóveis nas ruas, conseguir uma vaga tornou-se um jogo da sorte.


O mercado informal de compra e venda de veículos, mais conhecido comoMEIO-FIO VEÍCULOS, é o principal fator que justifica a falta de vagas em algumas ruas da cidade. O termo é em alusão àquelas pessoas que atuam informalmente no mercado, sem ter uma estrutura de loja com CNPJ, garantias e obrigações legais.

W.L., de 40 anos, foi vendedor de carros em uma concessionária no final da década de 90 e, no início do ano 2000, resolveu ir tentar a sorte nos Estados Unidos. Em meados de 2007, quando retornou ao Brasil, depois de ter conseguido fazer um patrimônio razoável, sentiu a necessidade de investir em alguma coisa, mas o capital na época era pequeno paraempatarem estrutura. Começou então a comprar e vender carros usados pelas ruas da cidade e diz:não me arrependo e não tenho vergonha do que faço, pois eu sei o quanto é difícil trabalhar nas ruas com a desconfiança das pessoas, mas por outro lado é lucrativo, pois não pago impostos, não tenho funcionários que me trariam preocupações trabalhistas e eu mesmo faço meus horários, diz ele.

Perguntado sobre o que ele disse em relação à desconfiança das pessoas, seguro, responde: sou muito conhecido, tenho clientes fiéis e os que não me conhecem, faço questão de dar referências e se for preciso, faço um contrato de compra e venda registrada em cartório, apesar de não ser obrigado, pois segundo o Código de Defesa do Consumidor, não existe relação de consumo entre pessoas físicas. Para existir, tem que ser pessoa jurídica com pessoa físicafinaliza pedindo licença para atender o celular, poispode ser uma venda boa.

Em pesquisa informal pelas ruas da cidade sobre a quantidade de pessoas que trabalham dessa forma, identificamos que são aproximadamente 60 pessoas e que a maioria se conhece e tem algo em comum: quase todos frequentam a feira de carros que acontece todos os domingos na rua principal que acesso ao Parque de Exposições de Governador Valadares, no bairro São Paulo.


S.P.C., de 33 anos, também foi vendedor de carros em uma loja multimarcas, mas há cinco anos resolveu arriscar e entrou na informalidade. “Trabalho mais com carros populares na faixa de R$10 MIL a R$20 MIL. Sou um parceiro das concessionárias, pois os carros que eles não interessam, eu compro, dou uma preparadinha e vendo na porta da minha casa, na feira de domingo ou anunciando no jornal”, afirma. “Não concorro com as lojas, pelo contrário, ajudo a fecharem o negócio. Às vezes determinado estado e modelo não é interessante para colocarem no estoque, então eu vou lá e arremato”, enfatiza. Por outro lado, tem proprietários de revendas que reclamam da concorrência desleal. Afirmam que a prefeitura deveria inibir esse tipo de negócio e que as pessoas devem ficar atentas ao comprar carros de terceiros.

“A prefeitura deve investigar e fiscalizar essa informalidade. Nós pagamos aluguéis, impostos pesadíssimos, uma carga trabalhista complexa, temos que dar garantia do produto por força de lei” afirma F.S., 45 anos, dono de loja e ainda completa: “na informalidade tem muita gente séria e honesta, mas também muito “picareta” (pessoas de má índole), mas isso não vem escrito na testa. Se o cliente tiver algum tipo de problema com o veículo ou na documentação, ele não tem a quem recorrer. Mas se comprar numa loja legalmente constituída, fica mais fácil resolver”.

Um dos pontos mais cobiçados na cidade pelos informais é a Avenida Brasil, na altura do bairro Santa Terezinha na parte estreita que liga o Centro ao bairro São Paulo, pois ali existe um fluxo muito alto de pessoas e carros e algumas lojas de carro. É difícil estacionar no local devido à quantidade de veículos parados nos acostamentos dos dois lados da pista com os pára-brisas pintados anunciando sua venda. A maioria é de pessoas que atuam na informalidade. O morador G.C.S., de 68 anos, que reside lá há mais de 30 anos reclama: “não posso receber visita durante a semana porque não tem lugar de parar. Esses negociadores de carro tomaram conta do espaço. Devem achar que a rua é deles.”


Não existe uma pesquisa e nem um estudo a respeito desse assunto. Mas o que se pode observar é que é complexo, pois ao mesmo tempo em que é bom para alguns (no caso para os negociadores da economia informal), moradores e lojistas reclamam, seja pela concorrência desleal ou pelo abuso de tantas vagas tomadas nas ruas. Porém, de alguma forma, isso movimenta a economia fazendo a circulação de dinheiro entre prestadores de serviços como despachantes, lavadores, pintores, lanterneiros, eletricistas, mecânicos e capoteiros.  

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