Na roça é costume se
levantar bem cedo. Assim que o galo, presente que ganhei do meu avô no meu aniversário de seis anos, começava a cantoria, eu já pulava da cama. Saia do
quarto em direção a um cômodo separado da casa, onde funcionava cozinha de
mamãe.
Lembro-me claramente da
imagem que sempre via ao chegar à cozinha: Mamãe a beira do fogão a lenha, com
um dos pés sobre o fogão, um dos cotovelos apoiado ao joelho e uma das mãos
segurando o queixo, sempre pensativa, esperando a água ferver para
"coar" o café bem doce do jeito que eu e meus irmãos gostávamos. Eu
pedia sua bênção e ficava por ali esperando pela primeira refeição do dia.
Sentava-me em um banquinho improvisado feito de um tronco de árvore, e ela logo corria na cerquinha feita de bambu, que servia como paredes da cozinha, e pegava um pente para desembaraçar meus cabelos. Era um cuidado de dar gosto! No final, ela fazia duas trancinhas dessas típicas de festa junina, mas, não era para dançar quadrilha, as trancinhas serviam para manter os fios desembaraçados e evitar os temidos piolhos. Depois disso eu saia saltando feito um canguru. Minhas irmãs eram as próximas a passar pelo ritual das tranças.
Sentava-me em um banquinho improvisado feito de um tronco de árvore, e ela logo corria na cerquinha feita de bambu, que servia como paredes da cozinha, e pegava um pente para desembaraçar meus cabelos. Era um cuidado de dar gosto! No final, ela fazia duas trancinhas dessas típicas de festa junina, mas, não era para dançar quadrilha, as trancinhas serviam para manter os fios desembaraçados e evitar os temidos piolhos. Depois disso eu saia saltando feito um canguru. Minhas irmãs eram as próximas a passar pelo ritual das tranças.
Lembro-me também que mamãe
sempre colocou os filhos em primeiro lugar. Comprava um
calçado ou uma roupa para nós e depois, quando fosse possível, compraria algo para ela.
Fazia de tudo para nos agradar. Quando decidi sair de casa para estudar, vi o
sofrimento e o medo no olhar dela, ficou apreensiva por alguns dias,
cabisbaixa. Mas, me deixou partir mesmo me pedindo encarecidamente com os olhos
para ficar. Mamãe sempre foi muito carinhosa, preocupada e principalmente
protetora. Ah! Mamãe!
Hoje após tantos anos, o
espírito protetor de mamãe continua o mesmo, ou até um pouco mais aguçado. Nos
finais de semana quando viajo para a minha verdadeira casa, sempre tento
acordar bem cedinho e encontra - lá naquela mesma posição a beira do
fogão a lenha.
A cozinha já não é mais a
mesma, outra foi construída, agora com paredes de cimento e tijolos e não de
bambu. O fogão de lenha também deu lugar a outro, feito de tijolos e revestido
de cerâmica. O cabelo de mamãe continua castanho e bem longo, sempre coberto
por um lenço. O olhar apreensivo e protetor divide espaço com um rosto um
pouco envelhecido, que traz as marcas de uma vida de trabalho na
lavoura. O café bem doce acabou de sair, o aroma e o sabor me fazem voltar lá
nos meus sete anos de idade. Depois do primeiro gole, procuro um pente e
peço à mamãe que desembarace meus cabelos. E ela logo sorri, solta os meus fios, agora tingidos, e começa. Em seguida as duas trancinhas são feitas com a mesma
delicadeza e o mesmo amor dos meus tempos de infância.
Simples e Lindo...Parabéns! Adorei o Projeto Focalize !
ResponderExcluirSimples e Lindo,arrasou...Parabéns! Adorei o Projeto Focalize
ResponderExcluirTassinha, lendo sua crônica, me fez imaginar cada cena, cada gesto de sua relação com sua mãe. E tenho certeza que essas são as preciosidades que carregamos pra sempre em nossa lembrança, a nossa relação com a família.
ResponderExcluirParabéns! Gostei e voltei lá na casa de meus avós. Cheguei a ver o fogão fumegando. Novamente, parabéns!
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