segunda-feira, 4 de novembro de 2013

(OPINIÃO) O mal da “gorda”

Por Maria Freitas
mariafreitassouza@hotmail.com



Para que servem as novelas? Há quem diga que elas servem para entreter e aliviar a mente dos problemas do cotidiano. Mas, há também quem diga o contrário, que as tramas servem para nos fazer pensar. Pois, sempre acreditei na última opção. A novela das 21h da Rede Globo, “Amor à vida” de Walcyr Carrasco, ultimamente tem me feito pensar bastante. A trama é uma bagunça, mas tem seu poder. O autor não tem medo de dizer e mostrar algumas verdades duras e cotidianas, que poucos têm coragem de revelar.

Abomino o termo afrodescendente, assim como não me soa bem “homoafetivo” e qualquer outra coisa que sirva para mascarar a realidade. As pessoas tem medo de dizer a verdade: Sujeito é negro, fulano é gay, por isso usam termos no diminutivo, apelidos ou inventam formas mais “doces” de se referir a alguém “diferente” (?). Mas, nenhuma dessas expressões “politicamente corretas” me irrita mais do que “cheinha”.

Walcyr explora (até com certo exagero) o termo correto ao se referir a personagem Perséfone, uma enfermeira gorda e até pouco tempo virgem, que encontrou o príncipe encantado, um médico bonito e sarado. É a partir desse momento da trama que somos bombardeados com uma chuva de preconceito. Todos os outros personagens da novela olham torto para o casal, afinal, ele podia escolher uma moça magra e “bonita” (?) para se envolver, mas não, se apaixonou por uma moça gorda.

Os termos “cheinha”, “gordinha” são substituídos por gorda em praticamente todas as falas da novela. Sabe por que? Porque é a verdade. Ela é gorda mesmo, e daí? Tem gente que é magra, tem gente que é muito magra e tem gente que é gorda. Ninguém se preocupa em chamar uma pessoa magra de magrinha, porque presume-se que isso não seja um defeito, que seja o bonito. E ser gorda por um acaso é defeito? (Conheço muitas gordas infinitamente mais bonitas do que as magras e aposto que você também conhece).

Os diminuitivos como fofinha, cheinha, gordinha, parecem soar da mesma forma como chamar um gay de gayzinho, homossexualzinho, ou um negro de pretinho, negrinho, escurinho. As pessoas se assustam com a verdade, tem medo de ofender, só que elas não sabem que a verdade não ofende, a  verdade incomoda. Existem gordos que não gostam de ser gordos, gays que não gostam de ser gays, e acredite, existem magros que não gostam de ser magros. Mas, de uma sociedade que vê a beleza resumida a corpos magros, não há muito o que se esperar.

Este assunto gera muita polêmica e discussão. Para se referir a pessoas que não seguem o “padrão heterossexual de olho verde, cabelo loiro, pele branca, corpo magro (ou sarado)”, as pessoas costumam usar termos pejorativos que ofendem e diminuem “os diferentes”. E quando em uma novela se perde o medo de dizer a verdade, de mostrar à sociedade como ela é preconceituosa, as pessoas se assustam, porque dão de cara com o preconceito, que todo mundo carrega sem admitir.


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