mariafreitassouza@hotmail.com
Para que
servem as novelas? Há quem diga que elas servem para entreter e aliviar a mente
dos problemas do cotidiano. Mas, há também quem diga o contrário, que as tramas
servem para nos fazer pensar. Pois, sempre acreditei na última opção. A novela
das 21h da Rede Globo, “Amor à vida” de Walcyr Carrasco, ultimamente
tem me feito pensar bastante. A trama é uma bagunça, mas tem seu poder. O autor
não tem medo de dizer e mostrar algumas verdades duras e cotidianas, que poucos
têm coragem de revelar.
Abomino o
termo afrodescendente, assim como não me soa bem “homoafetivo” e qualquer outra
coisa que sirva para mascarar a realidade. As pessoas tem medo de dizer a
verdade: Sujeito é negro, fulano é gay, por isso usam termos no diminutivo,
apelidos ou inventam formas mais “doces” de se referir a alguém “diferente”
(?). Mas, nenhuma dessas expressões “politicamente corretas” me irrita mais do
que “cheinha”.
Walcyr
explora (até com certo exagero) o termo correto ao se referir a personagem
Perséfone, uma enfermeira gorda e até pouco tempo virgem, que encontrou o
príncipe encantado, um médico bonito e sarado. É a partir desse momento da
trama que somos bombardeados com uma chuva de preconceito. Todos os outros
personagens da novela olham torto para o casal, afinal, ele podia escolher uma
moça magra e “bonita” (?) para se envolver, mas não, se apaixonou por uma moça
gorda.
Os termos
“cheinha”, “gordinha” são substituídos por gorda em praticamente todas as falas
da novela. Sabe por que? Porque é a verdade. Ela é gorda mesmo, e daí? Tem
gente que é magra, tem gente que é muito magra e tem gente que é gorda. Ninguém
se preocupa em chamar uma pessoa magra de magrinha, porque presume-se que isso
não seja um defeito, que seja o bonito. E ser gorda por um acaso é defeito?
(Conheço muitas gordas infinitamente mais bonitas do que as magras e aposto que
você também conhece).
Os
diminuitivos como fofinha, cheinha, gordinha, parecem soar da mesma forma como
chamar um gay de gayzinho, homossexualzinho, ou um negro de pretinho, negrinho,
escurinho. As pessoas se assustam com a verdade, tem medo de ofender, só que
elas não sabem que a verdade não ofende, a
verdade incomoda. Existem gordos que não gostam de ser gordos, gays que
não gostam de ser gays, e acredite, existem magros que não gostam de ser magros.
Mas, de uma sociedade que vê a beleza resumida a corpos magros, não há muito o
que se esperar.
Este
assunto gera muita polêmica e discussão. Para se referir a pessoas que não
seguem o “padrão heterossexual de olho verde, cabelo loiro, pele branca, corpo
magro (ou sarado)”, as pessoas costumam usar termos pejorativos que ofendem e
diminuem “os diferentes”. E quando em uma novela se perde o medo de dizer a
verdade, de mostrar à sociedade como ela é preconceituosa, as pessoas se
assustam, porque dão de cara com o preconceito, que todo mundo carrega sem
admitir.
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